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Desenvolvimento Econômico
Empreendedores informais do CadÚnico movimentam mais de R$ 1 bilhão no Piauí
Número mostra força de negócios informais entre os que recebem auxílio do governo
Emelly Caroline Alves - redacao@pinegocios.com.br
O estigma em torno dos beneficiários de programas sociais no Brasil ainda é forte. Embora muitos pensem que pessoas de baixa renda, como as inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) ou que recebem Bolsa Família, não participam ativamente do desenvolvimento econômico, os dados mostram uma realidade bem diferente: essas pessoas movimentam bilhões, geram empregos e provam que a vulnerabilidade financeira não é sinônimo de inatividade.
No Piauí, de acordo com o Banco do Nordeste (BNB), 80% dos clientes que solicitam crédito pelo programa Credamigo, que oferece financiamento desburocratizado a empreendedores de baixa renda, estão inscritos no CadÚnico. “É importante destacar que esses empreendedores, em sua maioria, atuam de forma informal. Estamos falando de comerciantes, sacoleiros e pequenos prestadores de serviços que, com o apoio do crédito, conseguem expandir seus negócios”, explica Fernando Mourão, gerente do Credamigo Teresina.
Levantamentos do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), do BNB, apontam que o Credamigo já realizou, em 2024, mais de 290 mil operações no Piauí, com um ticket médio de R$ 3.200 por operação. Em 2023, o programa contratou R$ 1,2 bilhão em crédito. Estima-se que as operações geraram aproximadamente 54 mil empregos e contribuíram com R$ 443 milhões para a massa salarial.
Esse incremento também refletiu na arrecadação tributária, com um aumento de R$ 72,5 milhões distribuídos entre as esferas federal, estadual e municipal. Além disso, o valor bruto da produção, que se refere ao impacto econômico do crédito disponibilizado pelo programa, teve um acréscimo de R$ 2,1 bilhões.
"Esse programa tem um grande impacto na economia local, pois os valores estão circulando por meio desses empreendedores. Embora falemos em números de operações, é importante lembrar que cada operação representa uma pessoa, que, por sua vez, sustenta uma família. Dessa forma, podemos afirmar que cada beneficiário impacta diretamente a vida de três ou quatro pessoas”, afirma Mourão.
A teresinense Elisiene Almeida, de 46 anos, é um exemplo desses empreendedores. Vinculada ao Credamigo há 17 anos, ela tem um pequeno restaurante em sua residência, na Zona Sudeste da cidade. Atualmente, Elisiene atende clientes no local e também trabalha com delivery, mas nem sempre foi assim. Em entrevista ao Piauí Negócios, ela conta que começou a empreender há mais de 20 anos, e os créditos obtidos foram fundamentais para a expansão e manutenção do seu negócio.
“Sempre tive o sonho de trabalhar com comida. Desde muito nova, trabalhei em casas de família, fazendo comida para as pessoas e sempre caprichei. Hoje, trabalho com quentinhas e tenho um pequeno restaurante”, comenta Elisiene.
Mesmo permanecendo na informalidade, Elisiene já alcança um faturamento mensal de R$ 5 mil e conta com duas pessoas para ajudá-la nas operações do restaurante. Ela renova seus créditos periodicamente para reinvestir no negócio. "Sou muito grata pelo programa, pois foi através dele que consegui conquistar meu negócio e casa próprios", destaca.
Para o economista João Victor Souza, esses empreendedores são um motor importante para a economia local. Ele destaca que, embora muitos estejam à margem do mercado formal de trabalho, eles conseguem criar e sustentar negócios próprios, além de impactar a movimentação econômica do seu bairro, cidade e estado.
“A principal contribuição desses microempreendedores está no fato de que eles movimentam os negócios locais. Ao contrário das grandes empresas que remetem lucros para fora, os microempreendedores compram de fornecedores locais e vendem para consumidores locais, o que estimula a economia em sua região, mantém a renda circulando ali e estimula outros setores econômicos locais”, destaca.
Mais de 45 mil MEIs piauienses estão cadastrados no CadÚnico
O número de microempreendedores individuais (MEIs) registrados no CadÚnico também é significativo. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 40% dos microempreendedores individuais (MEIs) piauienses estão cadastrados no CadÚnico (base de dados que reúne informações sobre famílias de baixa renda), totalizando mais de 45 mil pessoas. Desses, 60% também recebem o Bolsa Família, o que demonstra que o empreendedorismo não é algo distante da realidade de quem está em situação de vulnerabilidade.
Esses microempreendedores também estão em busca de crédito. Em 2023, as operações de MEIs no Banco do Nordeste somaram pouco mais de R$ 1,3 milhão, conforme os dados da instituição.
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Capacitação é o caminho para o crescimento dos empreendedores de baixa renda
Para Ricardo Soares, gerente executivo de negócios do Banco do Nordeste (BNB) no Piauí, o maior obstáculo enfrentado pelos empreendedores de baixa renda é a falta de capacitação. Muitos deles, mesmo após iniciarem negócios com apoio de programas como o Credamigo, continuam na informalidade, o que limita seu potencial de crescimento.
"Há uma resistência em buscar capacitação e formalizar o negócio. Muitos começam de maneira informal e, mesmo obtendo sucesso, ficam presos a esse modelo por receio de avançar", explica Soares.
Os dados nacionais mostram o potencial de crescimento da categoria: 4,6 milhões de pessoas inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) já empreendem formalmente, enquanto 14 milhões desejam empreender.
A capacitação, segundo o gerente executivo, é fundamental para que esses empreendedores superem o medo de formalizar suas atividades e aproveitem melhor as oportunidades.
“É necessário criar uma cultura de capacitação desses empreendedores, pois eles têm uma grande capacidade de gerar emprego e renda para a população, e com isso desenvolver a comunidade em que estão inseridos”, conclui Ricardo Soares.
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