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Pequenas e médias indústrias do Piauí recebem 83% dos recursos do Plano Mais Produção
Entre 2023 e julho de 2024, já foram aprovados R$336 milhões para 336 projetos piauienses
Emelly Caroline Alves - redacao@pinegocios.com.br
O Plano Mais Produção, uma iniciativa do Governo Federal, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e outras instituições, está mobilizando cerca de R$ 300 bilhões para impulsionar a neoindustrialização no Brasil até 2026. No Piauí, entre 2023 e julho de 2024, já foram aprovados R$336,6 milhões para 336 projetos focados em aumentar a produtividade e inovação industrial.
As médias empresas do estado foram as principais beneficiadas, recebendo R$ 215,2 milhões em 165 projetos ao longo de um ano e meio, o que corresponde a cerca de 63% dos recursos. Em seguida, as pequenas empresas receberam R$ 66,6 milhões para 115 projetos. No total, pequenas e médias empresas juntas absorveram aproximadamente 83% dos recursos destinados ao setor.
As grandes empresas, por sua vez, receberam uma menor parcela dos recursos. Elas foram contempladas com R$ 46 milhões distribuídos em 24 projetos.
Segundo o economista Fernando Galvão, essa distribuição reflete a predominância de pequenos negócios no setor industrial do Piauí, que são os principais geradores de empregos no estado.
“As pequenas e médias empresas acabam captando tudo isso porque a fatia delas dentro do bolo produtivo da indústria do Piauí também é maior. Há uma proporcionalidade. As micro, pequenas e médias empresas são as que mais geram renda e empregam mão de obra nesta atividade econômica”, afirma.
Dados da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) corroboram essa análise. Embora representem apenas 3% das indústrias no Piauí, as médias empresas são responsáveis por 26% dos postos de trabalho. As pequenas empresas, que têm uma participação maior (20%), empregam 35% da força de trabalho industrial.
Mais produtividade e menos inovação?
Os dados apurados pelo Piauí Negócios mostram que a maior parte dos recursos foi direcionada para aumentar a produtividade, com R$ 329 milhões distribuídos em 329 projetos. Em contraste, apenas R$ 4,6 milhões foram destinados à inovação, divididos entre cinco projetos ao longo de um ano e meio, que representam apenas 1,5% do total investido na indústria.
Fernando Galvão explica que isso ocorre porque pequenas e médias empresas geralmente operam em um ambiente altamente competitivo e buscam melhorar sua produtividade para se destacarem frente à concorrência.
“Projetos focados em inovação têm um objetivo diferente. Eles visam criar algo novo e disruptivo, o que exige recursos significativos, mão de obra altamente qualificada e tempo para testes e aperfeiçoamento. As micro, pequenas e médias empresas não têm fôlego para isso”, destaca o economista.
Para o presidente do Centro das Indústrias do Piauí (CIEPI), Federico Musso, é importante equilibrar a inovação com a realidade da matriz industrial do Piauí. Em entrevista ao Piauí Negócios, ele apontou que, embora seja vital celebrar a inclusão de novas fontes de recursos voltadas para a inovação industrial, é igualmente necessário reconhecer que muitas indústrias do estado ainda operam com maquinário antigo e precisam de atualização.
"Não adianta querermos implementar projetos de inovação quando nossa matriz industrial ainda está muito desatualizada", ressalta. Ele reforça que, para a indústria piauiense ser mais competitiva, é necessário investir em linhas de financiamento que promovam a inovação e também ofereçam suporte à modernização das estruturas industriais existentes.
Investimentos terão grande Impacto na expansão da atividade industrial, diz economista
O cenário da indústria no Piauí revela um setor ainda em desenvolvimento, com uma participação modesta no PIB estadual. Atualmente, a indústria representa 14,3% do PIB estadual, somando R$ 8 bilhões, o que equivale a apenas 0,4% da indústria nacional. A composição industrial do estado é dominada pela construção civil (48%) e pelos serviços industriais de utilidade pública (93%), enquanto setores como alimentos, bebidas e metalurgia têm uma presença muito menor.
Fernando Galvão destaca que o Piauí, historicamente baseado na agropecuária e serviços, nunca teve a indústria como protagonista, o que se reflete na sua baixa participação no PIB e no mercado de trabalho formal. Entretanto, os recursos do Plano Mais Produção têm o potencial de impactar positivamente esse cenário.
“Esses 336 milhões de reais destinados ao estado são uma injeção de recursos na economia. São valores a mais que serão investidos em em plantas industriais, aquisição de máquinas, equipamentos, insumos e matérias-primas, com orientação para a ampliação da produtividade dessas atividades já desenvolvidas aqui", aponta Galvão.
"Os investimentos terão um relevante impacto na expansão da atividade industrial do Piauí”, acrescenta o economista.
Federico Musso também vê os investimentos como positivos para o estado. Segundo ele, os recursos chegam em um momento estratégico para o desenvolvimento industrial do Piauí.
“O governo está apostando em energias renováveis, agroindústrias e mineração, além de projetos para melhorar a infraestrutura logística do estado e descentralizar a indústria. Sem dúvidas, todas essas fontes de financiamento que o governo federal está disponibilizando podem contribuir muito para que esses projetos possam se implantar no curto prazo e possam fazer investimentos em tecnologias mais inovadoras”, comenta Musso.
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Indústria da transformação pode impulsionar crescimento do setor
Outro ponto enfatizado pelo economista Fernando Galvão é a importância de direcionar esses recursos para o setor industrial de transformação. Ele explica que esse setor, responsável por processar matérias-primas e agregar valor, tem o potencial de impulsionar significativamente o crescimento econômico do estado.
"O setor de transformação tem mais conexões na cadeia produtiva com outras atividades, e essa injeção de recursos pode ter um efeito irradiador na economia, tornando-se um fator multiplicador mais forte dentro do estado", ressalta Galvão.
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