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Tecnologia
Alta produtividade do Matopiba ajuda na preservação ambiental, diz consultor
O especialista Viktor Andrade ressalta que mais produção em menor espaço evita expansão para novas terras, preservando assim os biomas
Redação - redacao@pinegocios.com.br
É possível conciliar a expansão do agronegócio com a preservação ambiental. O caminho para isso é o aumento da produtividade nas lavouras, por meio de novas tecnologias, com necessidade muito menor de expansão em novas áreas, garantindo a conservação dos biomas naturais brasileiros. A explicação é de Viktor Andrade, sócio da EY Brasil, (antiga Ernst & Young), uma das maiores empresas de auditoria e consultoria do mundo,
Segundo Andrade, um dos bons exemplos vem da região conhecida como Matopiba, formada pelo estado de Tocantins e partes do Maranhão, Piauí e Bahia, onde ocorreu forte expansão agrícola a partir da segunda metade dos anos 1980, principalmente no cultivo de grãos. O nome é formado pelas siglas dos quatro estados: MA + TO + PI + BA.
“A produtividade por hectare de soja no Matopiba aumentou em 15 vezes, entre 1980 e 2021. Apenas nos últimos 20 anos, a produtividade por hectare aumentou mais de 150%, em média”, diz Andrade, que destaca o potencial da nova fronteira agrícola nacional.
Segundo ele, a produção agropecuária do Matopiba é marcada pelas grandes colheitas de grãos, especialmente soja, milho e algodão. A porção baiana da região é a segunda maior produtora brasileira de fibra, atrás apenas de Mato Grosso. A safra de soja e milho foi de quase 15 milhões de toneladas em 2018, equivalente a cerca de 10% da produção nacional, segundo dados do IBGE processados pela Embrapa. “Os imóveis rurais da região também abrem espaço para frutas, raízes e tubérculos, além da pecuária”, afirma Andrade. Em entrevista à Agência EY, ele fala sobre o potencial de Matopiba para os próximos anos. Confira os principais trechos.
Qual é a importância atual de Matopiba para o agronegócio e a economia brasileira?
Se Matopiba fosse um país, seria o quinto maior produtor de soja no mundo, atrás apenas do Brasil, Estados Unidos, Argentina e China. Foram produzidas na região 18 milhões de toneladas de soja no ano safra 2020/2021, enquanto o Brasil todo produziu 122 milhões de toneladas. Além disso, a produção no Matopiba cresceu com taxas superiores à produção brasileira. A produção de soja na região, nos últimos 20 anos, cresceu 623%, enquanto a produção brasileira cresceu 239%. Ou seja, cerca de três vezes a mais. A produção de milho, nos últimos 20 anos, aumentou 479% na mesma região, enquanto a brasileira cresceu 243%, ou seja, cerca de duas vezes superior. Sem o volume produzido no Matopiba, o Brasil não seria o maior produtor de soja do mundo.
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Qual é o potencial do Matopiba para os próximos anos?
A região ainda tem disponibilidade de terras para expandir ainda mais a sua representatividade. Dos 73 milhões de hectares que compreendem o Matopiba, cerca de 35 milhões são agricultáveis. Atualmente, as lavouras ocupam cerca de 8,5 milhões de hectares, segundo a Conab. É um polo gerador de riqueza aos estados do Nordeste. Uma grande parte do potencial de crescimento futuro do agronegócio brasileiro vem do Matopiba, considerada uma das últimas grandes fronteiras agrícolas do Brasil.
A região abrange os principais biomas brasileiros, em especial o Cerrado. Um dos desafios atuais é compatibilizar a expansão da produção agrícola nacional com a preservação ambiental. Como isso é possível?
O aumento da produtividade em áreas agrícolas já existentes é uma das principais maneiras de diminuir a necessidade de aumento de produção por meio da ocupação de mais áreas. Dos 73 milhões de hectares do Matopiba, cerca de 35 milhões são agricultáveis. Isso significa que os outros 38 milhões provavelmente serão preservados, sendo que grande parte deles é Cerrado natural. Inclusive, o Cerrado já possui algumas áreas de preservação mantidas pelo governo, as quais podem ser ampliadas para garantir a preservação do bioma. Isso pode ser feito sem conflito com as lavouras. A legislação em vigor inclui a obrigatoriedade da preservação de 20% a 40% da área total de uma fazenda com sua vegetação nativa, mais a preservação das matas ciliares. Ao mesmo tempo, o setor continua a desenvolver novas técnicas e muitas delas envolvem soluções biológicas, em vez de químicas, o que torna o uso do solo pelas lavouras mais positivo para o meio ambiente.
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Fonte: Agência EY